Pedra na Bexiga quase muda a História do Brasil

Compartilhe esse artigo

Share on facebook
Share on linkedin
Share on twitter
Share on email

Em 1985, o então eleito Presidente da República Tancredo Neves é operado de uma doença no abdome, mas vai a óbito antes de assumir o Governo Brasileiro. Quem assume no seu lugar é o seu vice, José Sarney. O que aconteceu de bom e de ruim desde então até os dias atuais todo mundo conhece (pelo menos o que foi descoberto e publicado). No entanto, os presidentes do Brasil durante os séculos XX e XXI poderiam ter sido outros em decorrência de uma outra história cirúrgica que quase mata o terceiro Presidente após a proclamação da República. É o que veremos nos parágrafos seguintes:

Com a proclamação da República em 15 de novembro de 1889, o Brasil tem o seu primeiro presidente, o marechal Deodoro da Fonseca. Sentindo-se ameaçado, deixa o cargo em 1891 e quem assume é o seu vice, o também marechal Floriano Peixoto (marechal significava a patente máxima do Exército e da Força Aérea Brasileira e o último marechal brasileiro na ativa foi João Batista Mascarenhas de Morais, falecido em 1968).

Floriano Peixoto governa o Brasil por 3 anos e entrega o cargo a Prudente de Morais, primeiro presidente civil do Brasil, no dia 15 de novembro de 1894. Sua eleição marcou o fim da presença de militares no governo do país, inaugurando a representação dos interesses das oligarquias agrícolas e paulistas, sobretudo as do café. Prudente de Morais assumiu o Brasil no meio de uma crise econômica conhecida por “encilhamento”, ameaçado por um golpe militar, complicado por várias revoluções internas e ainda enfrentando uma intensa oposição política liderada por militares florinistas, pelo partido Monarquista que buscava se reorganizar e por uma parte do povo descontente com o governo de um presidente civil.

Problemas enfrentado por Prudente de Morais

Problemas enfrentados por Prudente de Morais

“Encilhamento” foi como ficou conhecida a crise financeira ocorrida no Brasil a partir de 1890 decorrente da política econômica do governo provisório do Marechal Deodoro da Fonseca.    Essa política, conduzida pelo Ministro da Fazenda Rui Barbosa, tinha por objetivo o incentivo à industrialização e se baseou na liberação de créditos bancários garantida pelas emissões de moeda destinadas ao financiamento de projetos industriais. O fracasso do projeto deveu-se ao boicote promovido por especuladores ligados aos latifundiários e investidores estrangeiros que, por meio de empresas-fantasmas inundaram o mercado financeiro com ações sem nenhum valor. As consequências como inflação dos preços, falências e a desconfiança nas instituições financeiras se arrastaram por anos configurando a crise do Encilhamento.

Além de todos os problemas citados acima, Prudente de Morais tinha mais um que parecia ser o pior: Uma grande Pedra na sua Bexiga. As pedras na bexiga surgem no homem geralmente em decorrência de problemas na próstata e causam muita ardência, dor e dificuldade para urinar que são pioradas pelas infecções urinárias que provocam. Em carta de janeiro de 1895, disse a uma de suas filhas: “… eu vou me aguentando; as crises começaram a ser mais freqüentes e intensas, causando um grande desconforto. Em outra carta, pode-se ler: “…Cheguei aos 54 anos mas tão cansado e abatido como se tivesse chegado aos 64: envelheci 10 anos por antecipação – resultado da enfermidade e do enorme peso que suporto há longos 11 meses…”. Em janeiro de 1896 chegou a escrever “…O meu maior desejo é ver-me livre deste inferno.”

Com os sintomas piorando, sem condições mais de trabalhar e seu estado de saúde se agravando, foi decidido por uma cirurgia, realizada em 29 de outubro de 1896, às 9h da manhã, na sua residência de verão no Rio de Janeiro. Anestesiado com clorofórmio, foi feito um corte grande abaixo do umbigo, seguido da abertura da bexiga para retirar uma pedra de 3,5cm de diâmetro. Apesar do sucesso imediato, a cirurgia complicou alguns dias depois (o primeiro antibiótico, denominado de penicilina, somente foi descoberto em 1928). Naquela época, a taxa de mortalidade desta cirurgia na Europa era de 25 a 30%, enquanto no Brasil chegava a 75% (6 dos 8 paciente operados até então no final do século XIX haviam morrido). Com a cirurgia infeccionada e prevendo uma longa recuperação, Prudente de Morais teve que passar a presidência para Manoel Vitorino Pereira, seu vice.

Charge quando Morais sai do Governo após a cirurgia

Charge publicada após Morais entregar o cargo ao vice

Manuel Vitorino Pereira, que era médico e conhecia as estatísticas de mortalidade da cirurgia realizada em Morais, decide governar o Brasil à sua maneira, mudando a sede do governo para o palácio do Catete, nomeando novos ministros e dando uma nova orientação política ao país. No entanto, no dia 4 de março de 1897 e sem aviso prévio, Prudente de Morais reassume o governo para surpresa da oposição e do povo brasileiro numa situação política pior do que quando se afastara A volta inesperada do Presidente deixou a impressão de que assim procedera para salvar os interesses da República, desvirtuadas por Manuel Vitorino. Permaneceu no Governo até 1898, quando entregou a faixa ao presidente Campos Sales.

Diante da história, pode-se afirmar que a história do Brasil quase foi alterada por uma pedra na bexiga, ficando na imaginação de cada um que tipo de destino e consequências futuras o Brasil teria caso Prudente de Morais não mais reassumisse a presidência.

Bibliografia:

# Condé E: A Urologia e sua História. Ministério da Educação e Cultura, 1958.

https://sites.google.com/site/brazilpresidents/

# The history of brazilian republic was almost changed by a bladder stone. Braz J Urol, 27: 72-77, 2001.

Mais sugestões

Scroll Up